Em tempos de mensagens curtas e vocabulário apressado, um lugar ainda resiste ao apagamento das palavras: a Academia Piauiense de Letras (APL). Com mais de um século de história, a instituição tem reafirmado sua missão de preservar a língua portuguesa como patrimônio imaterial, essencial à identidade e à memória do povo piauiense.
Quem traduz essa missão com eloquência e sensibilidade é a presidente da APL, a professora e escritora Fides Angélica Ommati.
“A palavra é mais que um signo — é uma casa. E como toda casa, ela abriga memórias, afetos e pertencimentos.”
Para Fides, a palavra não é apenas forma de expressão, mas estrutura simbólica que sustenta a história de uma coletividade.
“Preservar a palavra é preservar o espírito de um povo. A língua que falamos carrega o barro das nossas origens, o som das nossas ruas, a sabedoria dos nossos avós. É por isso que a Academia não é apenas uma casa de letras — é um corpo vivo da cultura piauiense, que pulsa com cada verbo, cada verso, cada voz que ressoa por entre nossas paredes.”
Guardiã da língua e da memória
A presidente destaca que a APL não se limita ao acervo físico ou aos ritos tradicionais. Ao contrário, atua ativamente na promoção de ações educativas, publicações editoriais, digitalização de acervos e incentivo à produção literária.
“Vivemos um tempo em que a pressa corrói os significados. Perdemos palavras como quem perde documentos históricos. E é por isso que nossa missão é também uma forma de resistência. Quando publicamos, ensinamos, escutamos e cultivamos o valor da palavra, estamos preservando a liberdade de ser, de pensar e de sentir.”
Fides ressalta o papel da instituição como espaço de escuta e conexão com as raízes populares.
“Quem escreve, quem fala, quem canta — constrói. E o que fazemos aqui, todos os dias, é garantir que essa construção não seja esquecida. Que a nossa gente continue a se ver, se reconhecer e se afirmar através da linguagem que a representa.”
Onde a palavra respira
A Academia, segundo Fides, é um lugar onde a palavra respira. Respira o tempo, a história e a transformação.
“A palavra escrita pode até envelhecer no papel, mas jamais morre enquanto houver quem a leia, quem a diga e quem a sinta. Enquanto existir uma criança ouvindo uma história, um jovem escrevendo um poema, um mestre ensinando a beleza de um vocábulo regional, a língua será uma chama acesa. E a Academia estará ali — zelando por ela, como quem vela um altar.”
Mais do que uma instituição, a APL se firma como uma trincheira literária e simbólica, onde a palavra é cultivada como semente e celebrada como legado. Um compromisso diário com a preservação da cultura e da identidade piauiense — verbo por verbo.